Espiritismo Conquista

     Antes de Kardec na Europa, um fato ocorrido na América ganhou as páginas dos jornais de quase todo o mundo. No dia 11 de dezembro de 1847, a família Fox alugou uma casa no vilarejo de Hidesvile, condato de Wayne, Estado de Nova York. A família era composta por Katherinne de 11 anos, a irmã Margareth de 13 anos e os pais. Após alguns meses na residência, a família começou a ouvir uma série de pancadas e ruídos que pareciam acontecer em toda a casa. Descrentes dos fenômenos tidos até então como sobrenaturais, atribuíam os ruídos a causas físicas como o próprio vento ou o desgaste na madeira e nas partes de metal que faziam parte da construção da casa.

     Os meses foram se passando e os ruídos tomaram maiores proporções, ao ponto das garotas, assustadas, dormirem co freqüência junto aos pais. No dia 31 de março de 1848, a caçula resolveu questionar os ruídos solicitando que este repetisse as pancadas de acordo com o número de palmas que ela fosse executando. E assim aconteceu. Na mesma noite, observando os fatos, os pais da jovem resolveram fazer à mesma experiência e obtiveram sucesso. Ampliaram então as perguntas solicitando que, em caso de afirmativo, ocorresse uma pancada. Se negativo, duas. Assim o diálogo se prolongou e descobriu-se que havia naquelas pancadas uma força inteligente. O fato despertou a curiosidade dos vizinhos e, nos dias que se passaram, centenas de pessoas se aglomeravam na casa dos Fox para descobrirem a causa do fenômeno ou apenas para comprovar o fato.

     Um código de pancadas, correspondendo cada batida a uma letra do alfabeto (uma a, duas b, três c e assim por diante), foi estabelecido entre os curiosos e o espírito batedor. Por meio desse código, descobriu-se que o espírito que se comunicava era um caixeiro viajante chamado Charles Rosma, de 31 anos, que ali havia se hospedado quando o imóvel era habitado pelo casal Bell. Esses antigos moradores, percebendo que o hóspede possuía grande quantia em dinheiro, o assassinou com uma facada no pescoço. O corpo do caixeiro foi enterrado numa parede falsa localizada no porão. Fato só descoberto e comprovado anos depois.

      O assunto tornou-se um problema de ordem religiosa e municipal. Os habitantes da pequena localidade entraram em alvoroço ao ponto de serem criadas três comissões com os homens mais sérios da cidade, para se verificar a veracidade do fenômeno. As irmãs Fox foram submetidas então aos mais constrangedores testes, inclusive tendo que ficar nuas para provar que os ruídos não provinham de estalos dos músculos, de objetos escondidos nas roupas ou de simples mímica.

     Três testes foram feitos na presença da comissão. Os três resultados atestaram à veracidade do fato e, diante do veredicto que confirmava a intervenção de uma “força oculta”, as meninas quase foram linchadas pela multidão enfurecida que não aceitava o fato que ia de encontro a crença religiosa da grande maioria. Mesmo sabendo a população local que as pancadas aconteciam na residência antes mesmo dos Fox se mudarem para o local.